Lã Transumante

“No começo do Verão, antes de demandar os altos da serra, ovelhas e carneiros deixavam, em poder dos donos, a sua capa de Inverno. Lavada por braços possantes, fiada depois, a lã subia, um dia, ao tear(…)”.

Ferreira de Castro – A Lã e a Neve, 1947.

Desde tempos remotos que a lã, tecida para proteger e confortar, faz parte da vida da humanidade. A cultura da lã é inseparável da pastorícia e dos conhecimentos ancestrais das sociedades agro-pastoris.

 

As condições únicas da Serra da Estrela permitiram-lhe ser um importante ponto de encontro entre os caminhos da transumância, possibilitando que muitas das povoações serranas se especializassem nas atividades relacionadas com a pastorícia, nomeadamente, na produção de tecidos à base de lã.

 

Frazão (1982), citando Políbio, Plínio e Estrabão, escritores romanos dedicados às coisas agrícolas, refere que na Bética (província ao sul da Península Ibérica) os ovinos do tipo burdo eram amplamente explorados. Foi daqui que derivou o termo Bordaleiro, dizendo respeito a lã e tecidos já muito reconhecidos.

 

As famílias de pastores existentes na Serra da Estrela aproveitavam a lã dos seus rebanhos para produzir panos de tecido (Burel) que eram pisoados e escaldados de forma a que se obtivesse um tecido bem resistente e forte para proteger do frio e das intempéries que traziam a chuva e a neve.

 

A ovelha Serra da Estrela, de lã preta ou branca, por vezes um terceiro tipo, a surrobeca (fenótipo entre a preta e a branca), através da sua lã Bordaleira, contribui para a produção do tecido de Burel, de origem medieval, desde sempre associado à Serra da Estrela, à montanha e aos pastores com as suas capas.

 

Hoje, o aproveitamento da lã Bordaleira da ovelha Serra da Estrela tem uma utilização diversificada.

 

 

 

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