A Transumância

Os caminhos, os rebanhos e os pastores
"(...)Apesar da sua riqueza em paisagem e fastos gloriosos, a Beira Alta, na sua mais antiga e genuína essência, é serra e fraga; é nevão originário, que se funde em manadeiros de torrentes; é anta e castro; e pastores transumantes que, desde o fundo das idades guardam e encaminham ovelhas(...)", Jaime Cortesão, "Portugal é A Terra e o Homem", 199

A transumância caracteriza-se genericamente como uma deslocação periódica e sazonal das ovelhas com a finalidade de procurar e assegurar-lhes os pastos verdejantes de que a sua subsistência carece. Estes movimentos de pastores e ovelhas contribuíram para a criação e desenvolvimento de uma importante e extensa rede de vias que em Portugal eram conhecidas por canadas.

 

A Serra da Estrela constitui um dos espaços privilegiados para a prática da transumância devido ao desenvolvimento natural das suas nascentes de água e das boas terras, sendo frequente no verão ver rebanhos apascentarem nos frescos relvados de cervum. O geógrafo e historiador português Orlando Ribeiro (1911-1997), refere a Estrela como uma montanha pastoril de tipo mediterrâneo, que conservava no século XX, o último e mais puro reduto da transumância nacional.

Nos séculos XIX e XX, as ovelhas da terra chã (vales), subiam a partir do S. João para a Serra da Estrela e Montemuro em grandes rebanhos onde permaneciam até meados de Agosto. No isolamento da serra, os pastores guardam os seus alimentos nas “Arcas do Pão”, buracos nas rochas graníticas e pernoitavam na Choupana ou debaixo de uma “Lapa”, bloco grande de granito, sempre junto ao “bardo”, cerco móvel construído com uma rede e estacas para guardar as ovelhas.

A transumância de Inverno, designada por Invernada, realizava-se após o aparecimento das primeiras neves em final de Outubro/Novembro. A partir das terras frias da Serra da Estrela para as regiões mais quentes, as terras chãs, as planícies e os vales abrigados, os caminhos percorridos assumiam diversas direções.

 

Estas rotas de transumância, preenchidas por ovelhas, pastores e respetivo cão, muitas vezes de duração superior a 3 e 4 dias de percurso, contribuíram para desenvolver uma relação de estreita complementaridade entre a serra e as planícies, criando um movimento cultural e social ímpar na região e no país.

 

Atualmente, após alguns anos em que se assistiu a uma redução das migrações transumantes, volta a surgir um movimento de dinamização da Rota da Transumância. Pretende juntar cada vez mais pastores, na procura das melhores condições de pasto para as suas ovelhas, mas também, preservar uma riqueza cultural e imaterial que distingue o pastoreio e a região da Serra da Estrela

Rota de Transumância Aldeia Formosa (Seixo da Beira), passando por Santa Marinha, até à Lagoa Comprida (duração 2 dias) Alberto Martinho

 

 

 

 

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